segunda-feira, 9 de março de 2009

Suhkdeep

Na subida do Everest, havia uma vila, que vivia talvez como há trezentos anos, onde ele morou por alguns meses. Imaginei luzes em função de velas e lamparinas, o frio e um quê do simples.
Era americano com fisionomia de indiano e eu lhe falei que poderia se passar muito bem por brasileiro. Uma barba crespa no rosto, uma camisa mostarda, que deixava o peito a mostra, e um chapéu-coco preto na cabeça, que escondia um cabelo longo envolvido num manto, cultivado em função da religião proveniente de uma parte específica da Índia. O nome Suhkdeep soava ‘chupa fundo’ no inglês, mas era ‘vila receptiva’ no original. “Não, não estive em muitos países. Poucos. Eu gosto de estar e sentir”. Tive um impulso de lhe jogar o Brasil por cima e exigir, em troca, um bom proveito.
O primeiro ponto da conversa foi o português. Divida o to be em dois e chame de ser e estar. Era assim: eu sou eu, mas também estou aqui. Éramos interrompidos pelo telefone, que tocava a cada dez minutos, e ele mantinha um ponto fixo de visão ao me esperar com uma paciência admirável. Eu era eu e também estava ali, ao continuar a explicação. Também tinha o verbo da saudade, terrível de traduzir.
Com as mãos no violão, ele soltou um blues e me mostrou que, se quisesse realmente tocar como gostaria, teria que afinar as cordas de uma maneira pessoal completamente diferente, o que as arrebentaria. Passou o resto da noite tomando uísque brasileiro na varanda. E eu fui embora sem dizer adeus, lembrando que “no Brooklyn não é possível ser tão amigo do seu vizinho quanto na Índia.”
O encontrei mais algumas vezes pela noite, até saber que ele trocou de estado com um grupo que conheceu de São Paulo. Sem despedida, percebi a despedida mais bonita. Lembrei o frio e um quê do simples.

2 comentários:

  1. falaí, Igor -

    Teu compadre de outrora, Guilherme (ta certo, mais da tua irmã do que teu) -



    Teu blog não vai funcionar mais não, é??


    acabei de inaugurar o meu -

    www.aglioeoleo.blogspot.com

    temperado, da uma olhada se te interessar!

    bjundas (ps*vamo marcar com a Savignon qualquer coisa - ela vive dizendo q ta com saudade)

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  2. Voce ista no meu favoritos (favorinhos) jajaja ...Esta bien mi portugues? I read the story, sounds someone that you meet in the hostel. Nice. Abraço amigo.

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